A «festa da Casa do Oeste», no passado dia 24 de Maio, começou por uma notável comunição de António Matos Ferreira, professor na Universidade Católica Portuguesa e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A comunicação, seguida de diálogo alargado, teve como título «O Enquadramento dos Movimentos da Acção Católica e a sua Actualidade no Contexto Social e Eclesial». A. Matos Ferreira deixou bem patente que o aparecimento da Acção Católica (AC), nos anos trinta de século passado, se inscreve num forte movimento histórico, anterior à própria encíclica «Rerum Novarum», (1891), de Leão XIII. A AC distinguiu-se dos movimentos anteriores pela sua organização, em vários organismos, pela vinculação à Hierarquia, pelo papel clarividente de vários assistentes eclesiásticos e de inúmeros dirigentes, bem como pela implantação no país, englobando largos milhares de militantes e simpatizantes. A sua inserção nas realidades terrestres processava-se através do método de «Revisão de Vida» – «Ver, Julgar e Agir», que implicava uma análise atenta da realidade, a leitura desta à luz da Doutrina Social da Igreja, e a assunção de compromissos para a acção permanente; acção desenvolvida nas diferentes estruturas sociais, começando na família, no trabalho, no associativismo, e abrangendo também as vertentes social, política e cultural. Pode afirmar-se que a AC foi uma verdadeira escola, ou universidade, do laicado; foi portadora de uma formação-acção específica, articulada com o esforço, pessoal e colectivo, de promoção social.
Contrariamente ao que seria de esperar, o período pós-conciliar (a partir de meados de 1960) não se traduziu na renovação da AC, mas sim no declínio da sua implantação e da capacidade interventiva. Para isso contribuíram factores diversos, em que se realçam:
(a) – a não adequação do modelo às novas realidades, tais como o pluralismo, a democracia, o laicismo e a globalização;
(b) – a dispersão do laicado por outros compromissos;
(c) – e a falta de um entendimento com a Hierarquia, ajustado ao tempo presente.
É talvez legítimo afirmar que a AC entrou numa crise profunda, que se arrasta há cerca de quatro décadas; porém, a crise não significa provavelmente a tendência para a extinção, mas sim a dificuldade de mudança. Pode mesmo afirmar-se que a gravidade dos problemas económico-socias e políticos dos dias de hoje constitui um apelo fortíssimo a que o laicado assuma as suas responsabilidades; e um convite específico à AC para se reencontrar, na sua identidade actualizada e na cooperação com outros movimentos eclesiais que foram criados entretanto.
A partir da referida comunicação de A. Matos Ferreira e do diálogo subsequente, ficaram bem claras algumas propostas para a acção futura. Uma incide na renovação da «Revisão de Vida» e do compromisso responsável nas diferentes realidades terrestres. A outra respeita ao tipo de organização recomendável, que talvez deva ser mais «federativa», e não unitária nem hierarquizada. Uma terceira aponta para a intervenção organizada na sociedade e suas estruturas, através de leituras da realidade e da proposta de medidas políticas, ou de outra natureza; tais propostas visariam a solução dos diferentes problemas locais e nacionais, no quadro da
globalização solidária. Foi entendido que talvez se justifique retomar a tradição dos congressos católicos, em ordem à convergência de esforços na intervenção social, colectiva e pessoal.
Em nota final, creio poder afirmar-se que os movimentos da AC, no Oeste do Patriarcado, vêm actuando de acordo com estas linhas de orientação. Registam-se porventura duas insuficiêncas, que aliás vêm constituindo motivo de preocupação: trata-se da insuficiência da expansão nas paróquias e da intervenção social organizada. Quanto a esta última, já se encontra esboçada uma linha de acção, sob a forma de «plataforma» que pode traduzir-se numa nova frente de compromisso e de trabalho comum.
Acácio F. Catarino
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