A crise (crises) desafia os cristãos ?

14 03 2009

p3010019A ACR a iniciar esta Quaresma, realizou na Casa do Oeste um  Encontro de Aprofundamento da Fé com o objectivo de reflectir as seguintes questões: Que interpelações nos faz o Evangelho face à situação económica e social que se vive no nosso país e no mundo? Que atitudes nos propõe?

O Encontro começou com uma introdução onde se propôs uma reflexão : “Repensar o Nosso Viver para que todos possam Viver“. Foi-nos proposto que analisemos a nossa forma de vida, reflectindo os nossos hábitos de consumo se poderão ser alterados para que cada um de nós contribua para melhorar os problemas do Planeta, quer ambientais quer sociais, tentando seguir o caminho apontado por Jesus de uma vida simples em Mat.6,19-21 « Não acumuleis tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os corroem e os ladrões arrombam muros para os roubar: Acumulai bens no Céu…pois onde estiver o teu tesouro aí estará também o teu coração».

O Padre Batalha continuou a introdução com a projecção de algumas apresentações em que se propunham atitudes concretas com alteração de alguns hábitos de Vida, alertando ainda para o facto da voz e presença de Deus se manifestarem em tudo o que nos rodeia, sem que muitas vezes O oiçamos ou lhe prestemos atenção.

Este Encontro teve como dinamizador, D. António Marcelino (Bispo Emérito de Aveiro).

D. António Marcelino, com uma extrema lucidez e recheado de histórias de Vida, transformou o nosso primeiro Domingo de Quaresma num acontecimento marcante para quantos tiveram o privilégio de participar nele.

Em resposta à questão ou tema do Encontro, diz-nos ” Sim, o Evangelho responde à crise. Se o cristão tiver Jesus Cristo – a Sua Vida, a Sua Mensagem, a Sua Luta – como ideal de vida, Este responde à crise“. A crise económico-social e cada uma das várias crises que cada um passa, enquanto pessoa humana, membro de uma família ou cidadão, podem destruir-nos ou enriquecer-nos, consoante nos fechamos em nós e no nosso egoísmo ou “saímos ” de nós e nos virarmos para os outros. Quem se fecha em si próprio não evolui e os seus problemas avolumam-se. Quando se passa a olhar para os outros, confrontamo-nos com os seus problemas, deixamos a nossa própria crise. A confrontação com os problemas deve levar-nos a agir, a lutar, pois “só são vencidos na vida os que estagnam“.

Esta crise (e todas as crises) são desafios à nossa renovação, à nossa criatividade. Se a crise resulta da adulteração dos Valores – que são universais e apontados pelo Evangelho – e da desumanização da economia, então, a sua solução está no retorno à Verdade – aos Valores que o Evangelho nos aponta. Os meios para resolver os problemas sociais são pobres mas eficazes: a solidariedade e a partilha. Cada Cristão só se pode assumir como tal, se mostrar coerência e comprometimento com o Evangelho. O Cristão trabalha todos os dias para a construção do Reino de Deus. Construir o Reino de Deus é repor o mundo da Verdade, dos verdadeiros Valores – Justiça, Misericórdia, Solidariedade, Caridade. Para que o possa fazer tem de ser o Homem Novo de que nos fala S. Paulo: ” o Homem Novo é o que se renova na sua espiritualidade“. A construção do Reino de Deus só se realiza se aceitarmos na nossa vida a Boa Nova que o Evangelho anuncia. A Boa Nova do Reino de Deus é o próprio Jesus Cristo. Cada cristão é chamado a ser o Homem Novo que se renova segundo Jesus Cristo. O Cristão só merece ser chamado por este nome se na vida de todos os dias ele vive para Aprender Cristo. O ‘Aprender Cristo’ não se limita a conhecer o Evangelho – é preciso vivê-lo. O Evangelho vence a crise sendo incarnado na nossa vida. Saibamos viver uma vida de completa solidariedade, permanentemente em qualquer situação, voltando-nos para quem precise, sem fazer indagações – “tentando ver para além do que os olhos vêem”.

A Quaresma é o tempo por excelência para avivar a nossa Fé, a nossa consciência de Deus. Conhecer Deus é segui-Lo. Segui-Lo na Pessoa de Jesus Cristo, pois Ele tem em si todos os valores. Para vencer a crise é preciso viver os valores. Não nos podemos esquecer que encontramos Deus nos outros. Deus põe os outros nos nossos caminhos para nos ajudarem e para nós os ajudarmos. É isso que contribui para a nossa conversão, pois só no confronto com os outros percebemos as nossas falhas e limitações e vemos os desafios.

A encerrar este Encontro, o P. Batalha advertiu para o seguinte: nós vimos os problemas da sociedade e reflectimos à luz da Fé. Percebemos os desafios e orientações. Porém o nosso compromisso é VER – JULGAR – AGIR. Porém é preciso AGIR; mudar estilos de vida. COMO é que isto muda ? Em primeiro lugar mudando eu. É uma mudança pessoal. Sim; mas não basta. Porque isto não é apenas uma questão pessoal. É uma questão também colectiva. Como vamos mudar as estruturas? Não basta remendar. Se este modelo de sociedade está corrompido e falido, urge encontrar outro. Temos de ultrapassar a mentalidade da concorrência para uma mentalidade da cooperação e da solidariedade. Temos aqui desafios ao desenvolvimento local e à mudança de escola da economia. Acreditamos que surjam os profetas de um novo modelo. Entretanto, este é já o nosso tempo de AGIR.

Por isso, acredito que todos saíram deste Encontro melhor preparados para viver esta Quaresma, tentando novo estilo de vida,  de olhos postos em Jesus, a única Verdade que nos poderá ajudar a sair desta crise e de todas as crises que assolam a nossa vida.

Fátima Cardoso